Carta Aberta à Diretoria do Fortaleza

Jonab Silveira Fernandes
4 min readJun 14, 2021

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Há exatos 23 anos, acontecia o arremesso derradeiro da última dança da dinastia do Chicago Bulls. Era o segundo final de uma geração genial de Jordan, Scottie, Rodman, Kerr, Kukoč, Harper e Burrell. Um time que reunia dois jogadores que estão nos 20 melhores da história, sendo um deles o melhor, um dos maiores defensores de todos tempos da liga, um dos jogadores mais inteligentes da liga. Um elenco que merece todos os louros possíveis, é claro. Mas esse time sequer existiria e nunca ganharia um anel sequer sem duas pessoas, Phil Jackson e Jerry Krause. O general manager que construiu uma equipe vencedora e um técnico que enxergava o que poucos enxergavam, que tinha ideias extravagantes e uma leitura impecável do esporte.

O Fortaleza, aos olhos de hoje, não tem um elenco maravilhoso. Não temos, no papel, um time para sequer lutar por vaga na Libertadores. Não temos, nem de longe, um elenco equiparável ao que os Bulls tinham nos anos 90. Nossa restrição orçamentária é completamente diferente dos maiores times do nosso campeonato, seria impossível montar tal time. Mas então o que nos faz engatar a sequência que vivemos? Como estamos na liderança?

A resposta não está dentro das quatro linhas, está fora. É fácil olhar para o elenco da dinastia dos Bulls hoje e falar o quão formidáveis eram aqueles jogadores. O quanto eles faziam parecer fácil o basquete. Mas isso não seria possível sem Phil Jackson. Sem Phil para corrigir os problemas do jogo de Scottie, ele nunca se tornaria um dos 20 melhores jogadores da história do esporte. Sem Phil para abraçar Rodman, o defensor jogaria sua carreira fora muito antes de ganhar qualquer anel por Chicago. Sem Phill para desenvolver o jogo defensivo de Kukoč, o croata provavelmente voltaria para a Euroliga sem deixar boas lembranças. Sem Phill, Kerr nunca se tornaria um dos role players mais relevantes da história, e talvez nunca se tornasse o técnico excepcional que é hoje.

Olhando para o Fortaleza, podemos não ver um elenco recheado de estrelas em um primeiro momento. Mas isso não importa. O que importa é o homem que está à beira do campo, Juan Pablo Vojvoda. Uma pessoa tão inteligente que já demonstrou, em tão pouco tempo, conseguir extrair o que há de melhor em cada jogador do time. Sem Vojvoda, Tinga não teria sido reposicionado para uma função que permite a ele ser mais intenso em menos oportunidades, desgastando menos o atleta. Sem Vojvoda, o talento de construção de Titi poderia ser subutilizado, como seria se o antigo treinador continuasse. Sem Vojvoda, Crispim e Pikachu não se achariam como alas construtores, alternando entre o extremo do campo e o corte por dentro. Sem Vojvoda, Ederson não seria esse volante box-to-box que entregaria tanto, com tanta intensidade e em todos pontos do campo. Um jogador que vinha oscilando virou nosso Kanté.

Toda equipe vencedora precisa de um técnico vencedor. Fortaleza achou o seu. Não por acaso, mas por trabalho, por método. Sem Marcelo Paz, sem Alex Santiago, sem o CIFEC, no nome de Henrique Bittencourt, isso nunca seria possível. Nunca. Da montagem de elenco ao método na escolha do treinador. Do investimento em infraestrutura ao investimento em investimento em ciência e tecnologia. Tudo isso é responsabilidade dos nossos Jerry Krause.

Então aqui meu muito obrigado a Marcelo Paz, a Alex Santiago, a Sérgio Papellin, ao Henrique Bittencourt, ao Juan Pablo Vojvoda. Meu muito obrigado por montarem um time que me lembra o Fortaleza de 2005. Eu cresci assistindo aquele time, eu cresci assistindo o Barcelona de Frank Rijkaard, o NOB de Bielsa, o Bayern de Heynckes, me encantei pelo Talleres de Vojvoda e pela Atalanta de Gasperini. E hoje eu tenho orgulho de bater no peito e dizer: meu time joga assim. Mais do que os 9 pontos em 3 jogos, mais do que a liderança, mais do que as oitavas da Copa do Brasil. Eu agradeço por ver o meu time jogar como eu sempre joguei no Football Manager, por ver meu time jogar o futebol que eu me apaixonei e só via em outros clubes.

Essa é a nossa dança. Se será uma valsa curta ou uma dinastia, pouco importa. O ponto forte de Michael Jordan não era seu chute, não era sua velocidade, não era seu drible, não era sua enterrada, não era sua defesa. Era sua mentalidade. Ele sempre estava no presente, não importava o que acontecesse. Ele não pensava no arremesso errado, na airball passada. Ele não pensava no forte Utah Jazz que enfrentaria nas finais. Ele pensava sempre no que estava fazendo, no imediato próximo passo, na imediata próxima cesta, na imediata posse defensiva. Essa era a mentalidade de Michael Jordan, viver o presente sempre. Vencer no presente. E esse é nosso momento, essa é a nossa dança. Então, vamos dançar.

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Jonab Silveira Fernandes
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Written by Jonab Silveira Fernandes

Apaixonado por esportes, por board games, por política internacional, por economia e por algumas outras coisas.

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